terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Bruna Surfistinha

Isto foi retirado do Sapo/Diario de Noticias! Para vermos o que realmente importa neste pais e neste mundo.

Bruna Surfistinha: a prostituta que se transformou em escritora de sucesso Maria João Caetano
"Não me arrependo de ter sido prostituta mas isso não significa que tenha orgulho. Nunca diria a uma mulher: vá-se prostituir que você vai-se dar bem. Isso não."

Raquel Pacheco é uma rapariga de 22 anos sem nenhuma beleza especial. Baixa, silicone no peito e um piercing no queixo. Cabelo impecável, maquilhagem abundante. Faz um olhar sensual para a máquina fotográfica e responde com um à-vontade desarmante às perguntas mais incómodas. Como decidiu, de um dia para o outro, aos 17 anos, tornar-se "garota de programa", como se sentia depois de receber cada cliente, como encontrou o amor da sua vida e, durante quatro meses, viveu dividida entre o sexo de trabalho e o sexo com amor. Desde que, em Janeiro de 2004, começou a contar a sua vida num blogue (www.brunasurfistinha.blogspot.com), Raquel, ou melhor, Bruna Surfistinha, tornou-se figura pública.
No blogue, contava com detalhe cada programa, sem dizer o nome do cliente mas dando pormenores sobre posições e actos sexuais, quantas vezes ele e ela "gozaram". O diário começou por ser um desabafo, para não se sentir tão só, diz. Passou a ser um instrumento de trabalho e depressa se tornou um fenómeno. Em Agosto já aparecia nas revistas. Foi entrevistada por Jô Soares e Marília Gabriela, alvo de piadas no Casseta e Planeta, assunto de artigos no The New York Times (EUA) e no The Guardian (Reino Unido). Raquel percebeu que podia tirar partido da situação. Estabeleceu uma meta para a conta bancária e marcou uma data para deixar a prostituição - o dia do seu 21.º aniversário, em Outubro de 2005. Assinou contrato com uma editora para escrever um livro de memórias e, desde então, tem sido só facturar.
"Dinheiro rápido, nunca fácil"
O Doce Veneno do Escorpião, agora lançado em Portugal, já vendeu mais de 140 mil exemplares no Brasil e está à venda em 14 países, dos Estados Unidos ao Vietname. Neste momento, Raquel está em digressão pela Europa a dar entrevistas. Muitas. Para revistas masculinas e jornais sérios. Todos querem saber os pormenores sórdidos da vida desta rapariga que quando era criança sonhava ser professora mas que nunca sentiu vergonha de ser prostituta. E que admite gostar de sexo e ter prazer com os clientes. "Eu tinha outras opções. Mas precisava de dinheiro, não tinha nada, não podia esperar pelo fim do mês", conta.
"Os anúncios que vi diziam: ganhe 1500 reais por semana atendendo executivos. E eu imaginei que só iam homens bonitos, como no filme Um Sonho de Mulher. Que apenas os Richard Gere da vida iam procurar prostituta. Me iludi muito." Como toda a gente, Raquel achava que este era dinheiro fácil. "Foi dinheiro rápido, nunca fácil", conclui.
Durante três anos e oito dias, Raquel trabalhou como prostituta, primeiro em bordéis e, depois, no seu apartamento. "Nos bordéis, há o cafetão [proxeneta], que fica com parte do dinheiro, mas também há segurança. Em casa nunca sabia a quem estava abrindo a porta." Entre as piores recordações desses tempos estão o medo e a solidão que sentiu, pois nunca mais teve qualquer contacto com a família, a cocaína que consumiu e o nojo que sentiu de alguns homens. "Não é fácil ir para a cama com caras que têm idade para ser seus pais ou seus avôs. Ainda hoje eu penso: de onde fui tirar tanta coragem?"
Um filme tornado realidade.
Em Janeiro de 2005, conheceu João Paulo (a que no início, no blogue, chamava Pedro e, agora, JP). Fez com ele sete programas, saíram juntos e começaram a namorar. Foi o escândalo. "A princípio as pessoas diziam que eu estava com ele por dinheiro, agora dizem que é ele que está comigo por dinheiro. A verdade é que nos apaixonámos." Ele esperou por ela, vencendo os ciúmes. Durante o dia ela era Bruna, às sete da tarde limpava o apartamento, queimava incenso e "virava" Raquel. "Nunca falávamos do meu dia. Não podia queixar-me de estar cansada. E ele não lia o blogue", conta. "Mas foi muito difícil." Continuam juntos. Ele não é Richard Gere mas está sempre por perto para cuidar de Raquel, dar-lhe um antigripal, um olhar de conforto.
No seu post de despedida da prostituição, escreveu: "Quero voltar a ser 100% Raquel". Um ano e meio depois, ela ainda é Bruna. Dá sessões de autógrafos, autorizou um filme a partir de O Doce Veneno do Escorpião, já lançou outro livro no Brasil (O que aprendi com Bruna Surfistinha - Lições de uma Vida Nada Fácil) e é repórter no site da revista Sexy. Mas também voltou ao liceu e alimenta o sonho de ser psicóloga. "Até lá espero que as pessoas se esqueçam. A Bruna vai deixar de existir. Eu estou aproveitando os meus 15 minutos de fama mas sinto muita falta de ser anónima. Quero ter o meu consultório e construir uma família. Quando acabar, acabou."

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